Moqueca de Tucano

Morador do Espírito Santo, militante do PSDB...

Tuesday, July 17, 2007

O desafio é trazer os jovens para a política


Os recorrentes escândalos pioram a imagem que os brasileiros têm dos políticos - que já não é das melhores. Diante da avalanche de denúncias, uma parte da população opta pela apatia. Outra adota uma postura cínica, segundo a qual "todos fariam o mesmo se estivessem lá". Um grupo acredita que o melhor é se organizar para mudar o que está errado. A prevalência de uma dessas alternativas diz muito sobre o que é a política em cada país. Mas não é apenas o presente que está em jogo. A visão de mundo que os mais velhos passam para os mais jovens é a peça-chave para criar uma sociedade melhor no futuro. O mais preocupante é como os mais jovens - inclusive as crianças - enxergam a política. Se eles se tornarem membros do clube dos apáticos ou dos céticos, pouco se poderá esperar do futuro.

O papel dos mais velhos, dos pais em particular, é evitar que a juventude deixe de canalizar sua energia utópica para a participação cidadã. A tarefa não é nada fácil, pois os maus exemplos de políticos destacam-se na mídia. Nessa situação, a melhor lição dos pais a seus filhos não é só criticar. Eles precisam mostrar que é possível fazer algo pela política. Podem começar com uma ação coletiva no bairro, ou então participando mais da gestão da escola. O importante é ensinar que todos têm uma parcela de responsabilidade pelo que acontece na esfera pública.
A lição maior deve ser dada no momento da eleição, quando os pais têm de buscar informações sobre os candidatos e precisam explicar suas opções eleitorais aos filhos. Um passo maior pode ser dado com a atuação partidária ou em mobilizações mais amplas, mostrando aos mais jovens que não há democracia sem a organização da sociedade, muito menos sem políticos. Afinal, se é possível melhorar a comunidade, por que também não seria possível fazer o mesmo no mundo das instituições políticas?

Se eles se tornarem apáticos ou céticos, pouco se poderá esperar do futuro.

Como esse processo de mudança social demanda tempo, os filhos poderão ficar impacientes à espera de bons exemplos políticos. Contra isso, os pais e professores deveriam contar à juventude o que já foi a política brasileira no passado recente. É preciso repetir os enormes defeitos do autoritarismo pelo qual passamos. Do mesmo modo, devem ser destacados os avanços da democracia recente: milhões de pessoas foram incorporadas à arena eleitoral, diminuiu a corrupção do voto graças à introdução da urna eletrônica e aumentou a fiscalização sobre os maus governantes. Muita coisa precisa ser melhorada, mas mostrar que foi possível, num espaço de 20 anos, aprimorar a cidadania é uma forma de dar esperança às novas gerações.

Os jovens, mesmo os mais bem-intencionados, vão errar em sua vida política. A invasão da reitoria da USP é um bom exemplo disso. Sem ignorar os erros do governo estadual, cabe realçar o maior equívoco do movimento estudantil: não se pode construir o diálogo democrático pela força. Ao definirem quando e de que maneira sairão do espaço invadido - ou "ocupado", no eufemismo que usam -, aqueles jovens se revestem de um autoritarismo incapaz de levar à possibilidade de acordos e consensos. No fundo, eles fecharam as portas para a boa política.

Talvez esse equívoco desses utópicos e imaturos jovens resulte da incapacidade dos adultos em mostrar como a política pode ser aperfeiçoada pela participação e pelo diálogo construtivo. Os escândalos políticos não podem produzir uma sociedade que fica entre a apatia e a birra. A adoção de um comportamento mais ativo em prol da democracia por parte dos mais velhos é a fórmula para produzir novas gerações capazes de melhorar o Brasil.

Por: Fernando Abrucio, doutor em Ciência Política pela USP e professor da Fundação Getúlio Vargas (SP)

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